Mapa Cultural do Ceará - Instituto Arrevoar

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Filosofia Arrevoar

"Aos esfarrapado do mundo e aos que nele se descobrem e, assim descobrindo-se com eles sofrem, mas, sobretudo, copm eles lutam." Educador Paulo Freire

A arrevoada é uma simbologia que representa dentro deste contexto e dentro da perspectiva dos participantes a ideia do movimento, a ideia do voo em direção a e o voo de volta a. Nós enquanto membros do projeto somos, em grande maioria, oriundos de um mesmo local, dos mesmos costumes e tradições inerentes a esta dada localidade, compomos nossas vidas e nos estruturamos a partir da realidade em que estávamos inseridos. Nossa infância e juventude foram pautadas dentro de uma mesma educação e, de um modo geral todas as outras esferas que compunham nossas vidas enquanto aspectos sociais.
No entanto, sempre chega um momento em que este mesmo lugar que nos acolheu tão bem durante tanto tempo já nos parece pequeno, já não pode suportar nossa ânsia pelo novo, o nosso buscar conhecer o que está e acontece lá fora e é nesse momento em que nos libertamos dessa gaiola que até o presente momento era visto por nós mesmo como o próprio mundo completo.
O feixe se rompe a porta se abre, avistamos um caminho para um mundo até então desconhecido, um mundo novo. Nossa ânsia de conhecer mais nos leva até essa porta, abrimos as asas e alçamos voo. Voamos alto, conhecemos outros lugares, outras culturas, outras formas de vida, outras pessoas.
Tal como a coruja que alça voo no cair da noite e que tem um campo de visão de 270º, nós passamos a observar como as coisas funcionam para além da luminosidade do dia. Nós conseguimos observar em meio à escuridão que nos cerca diariamente e ampliamos também nosso campo de visão, conseguimos com o voo observar a realidade de cima, mas intercalando entre o alto e o baixo. Voamos mas sem tirar os pés do chão. Nos deparamos com a ideia de liberdade tão presente no voar dos pássaros.
Essa tal liberdade é apenas o princípio de tudo o que virá a seguir. Nós, enquanto moradores da localidade de Tabatinga/Maranguape/Ceará/Brasil estávamos presos nessa gaiola, não reclamávamos, mas precisávamos de mais do que isso, precisávamos ampliar nossos horizontes e isso se deu com nosso ingressar na Universidade, localizada em Fortaleza/Ceará/Brasil. A partir desse momento entramos em contato com diversas realidades bem distintas sendo representadas por grupos sociais, entidades, religiões, políticas e tudo isso veio a contribuir no nosso entendimento de mundo, agora um mundo fora da gaiola, com outras demandas e casos distintos daqueles em que nos encontrávamos anteriormente.
Leituras, seminários, palestras, simpósios e todo tipo de relações interpessoais contribuiu de forma significativa para que ampliássemos nossos campos de visão e passássemos a observar a realidade em que estamos inseridos de forma distinta da que víamos antes. Conseguimos perpassar o campo da simples aparência e nos aproximamos de forma significativa da realidade como ela de fato se configura, nos aproximamos significativamente da essência da realidade ao qual estamos inseridos. Com essa “transcendência” passamos também a observar as contradições sociais e como elas se configuram.
Com o conhecimento adquirido no processo de aprendizagem fora do lar tivemos uma tomada de consciência e notamos que as Tragédias Gregas perdem feio apara o que estamos vivendo. A tomada de consciência por nós vivenciada com a continuidade dos estudos em Fortaleza trouxe grandes benefícios. Em contrapartida, para além do pensamento de superioridade em relação aqueles que não vivenciaram tal processo, a ignorância parece ser mais acolhedora. O “não saber” nos coloca em tal estado de desinteresse pelo que não nos afeta diretamente e assim a vida parece ser mais bela, enquanto a tomada de consciência nos coloca a par das coisas, nos joga no mundo, em choque com ele.
Diante tal medo, angustia e desespero que nasce e vem se alimentando a cada nova noticia que recebemos nos vemos na obrigação de optar pela ideia da prática da mudança advinda pela tomada de consciência em vez de lamentar e desejar a ignorância. Sabemos que não poderemos mudar o mundo com o Projeto Arrevoar, no entanto, é nosso dever tentar mudar aquilo que está a nosso alcance.
A concretização do projeto não se realiza apenas por interesses particulares, para alimentar egos ou meros caprichos, mas por todos aqueles eu forem afetados por esse projeto, pelas vidas que possam ser tocadas, por duas ou três pessoas vir a serem pessoas melhores. Retirando do contexto ao qual estava inserido e inserindo a premissa Lockeana no contexto atual, acreditamos seriamente que, por natureza - e ressaltamos aqui que, quando se aponta o termo “natureza” nos referimos a instancia ultima do ser humano - segundo o político e filósofo John Locke o homem não nasce bom nem mal, ele é neutro, e é a partir dessa premissa que tentaremos trabalhar. É preciso crer que as pessoas são boas mas foram corrompidas pela mesma sociedade ao qual estão inseridas e é a partir dessa ideia que se constrói o caminho para alcançar nossos objetivos.
Estamos nos propondo a ajudar outros jovens de Tabatinga a alçar vôos, vôos que os ajudarão a perceber as coisas como elas são, que os tirarão a visão de pessoas no mundo e os inserirão como pessoas com o mundo. Que a realidade é construída socialmente e que eles são os próprios construtores, que podemos construir um lugar melhor para viver e que isso poderá se alongar por diversas gerações. A nossa proposta é sim e de fato uma educação, mas não uma educação disciplinar, uma educação pautada em uma estrutura curricular, e sim uma educação informal, humanista.
Paulo Freire, em um sub capítulo intitulado “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão” em seu livro A Pedagogia do Oprimido pode nos servir de referencia para nos mostrar que nós, enquanto membros do Arrevoar, não temos a intenção de mostrarmos efetivamente qual o caminho a ser seguido, não temos a intenção de libertar ninguém, por que ninguém liberta ninguém, mas também não podemos deixar de intervir quando podemos fazer algo. Não pretendemos trabalhar com o antidiálogo, sloganização, verticalidade ou qualquer outro tipo de comunicação que vise a domesticação. É preciso trabalhar com a reflexão e não com o encaminhamento por meio da comunicação, o que nos parece que os próprios jovens seriam objetos de manobra. É preciso que eles estejam cientes do que está acontecendo e participem ativamente da sua própria libertação e isso só se dará a partir de suas próprias reflexões. Reflexões essas que dialogarão com a prática. É nesse momento em que podemos observar uma espécie de dialética dos jovens com o Arrevoar e com o mundo.
Por isso, como afirma Paulo Freire “é preciso que creiamos nos homens oprimidos. Que os vejamos como capazes de pensar certo também”. Desse modo o Arrevoar está para além de projeto comunitário, está se efetivando como uma ponte que liga os jovens de tabatinga a realidade em que estão inseridos. Mas não como meros comunicadores entre esses mesmos jovens e essa realidade, mas integrantes de um todo que precisa ser entendido para que possa ser modificado. Acreditamos seriamente que as pessoas podem ser muito melhores do que são, que podem construir uma sociedade melhor e ainda termos os pés no chão. Sabemos que não podemos atingir a sociedade como um todo, que as mudanças são feitas de forma singular e que pretender a universalização pode parecer tolo, no entanto, como já foi citado anteriormente, se duas ou três pessoas puderem vir a ser pessoas melhores, se puderem compreender o mundo e a partir da compreensão puderem refletir e melhorá-lo já estaremos demais satisfeitos.
Mas para isso é preciso criar asas, é preciso se libertar da gaiola que nos prende, é preciso conhecer outros lugares, outras pessoas, outras culturas. É preciso se ver livre para alçar vôos, vôos de ida e vôos de volta. É preciso uma arrevoada.

Texto: Cleciano Freitas

ALGUMAS DAS ATIVIDADES REALIZADAS PELO GRUPO EM SUA TRAJETÓRIA CULTURAL E EDUCATIVA EM TABATINGA/SAPUPARA:

CINE ARREVOAR (Desde 2016)
Situação: paralisado

INVENTARIAMENTO PARTICIPATIVO PARA A CRIAÇÃO MUSEU TERRITÓRIO DE SAPUPARA (Desde 2016)
Situação: ativo

FESTAS JUNINAS EM HOMENAGEM A SANTO ANTÔNIO (Desde 2016)
As tradições e comemorações no mês de junho são uma política do Grupo Arrevoar por acreditarmos na alegria e no que é genuíno. É política pois visibiliza uma geografia esquecida no cotidiano do bairro de Tabatinga, a da comunidade Engorda; e faz os festeiros acessarem os buracos da estrada para encontrar o desejo da alegria.
Muito arrasta pé, forró, quadrilha infantil (Coração Junino-Penedo), quadrilha improvisada, concurso de casal dançando forró, comida, bebida, fogueira e muita alegria há 4 anos marcam a identidade do grupo que faz parte de um povo que festeja!
Situação: Ativo

AÇÃO DE CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL DO ARREAVOR NAS ÁGUAS DO BRAGANTINO, MARANGUAPE, BRASIL (desde 2019)

Cuidar da nossa casa é cuidar do mundo em que vivemos. Fazer o bem a si é também pensar no coletivo. É preciso ser responsável por nossos atos e pelo lixo que produzimos, precisamos dar a ele o local adequado deixando limpo o bem comum para que todos possam estar sempre desfrutando do melhor que a natureza nos oferece. esta ação foi realizada pelo grupo a partir da constatação de poluição das cachoeiras locais por visitantes nos finais de semana. o trabalho repercutiu, nas redes sociais e nas relações com o santuário ecológico comunitário.
Situação: Ativo

PRE CARNAVAL DE TABATINGA (Desde 2017)
Realizado durante dois anos em tabatinga (2017 e 2018), o Grupo Arrevoar conduziu o bloco Arrevoar e o Libera mamãe Kids. o direcionamento para o publico infantil deu a iniciativa um caráter inovador e de forte adesão.
Situação: Paralisado

TIRAÇÃO DE REIS (Desde 2016)
Depois de mais de 30 anos sem expressões populares do tipo no bairro de Tabatinga o Grupo Arrevoar revive em janeiro as tradições dos populares locais da tiração de reis. na galeria, algumas fotos das tirações feitas pelo grupo desde 2016.
Situação: ativo.

BIBLIOTECA ARREVOAR (desde 2016)
Enquanto não realizamos o sonho de ter uma sede fixa, com espaço destinado a Biblioteca de Ciências Humanas de Tabatinga, nossos pássaros do Arrevoar passeiam nas praças da comunidade realizando intervenções com a biblioteca intinerante, que não se reduz ao acessar livros. Nos encontros temos contação de histórias, jogos e brincadeiras coletivas.
Situação: paralisado

PARCERIA APAE MARANGUAPE e ARREVOAR
A convite da APAE de Maranguape, o Grupo Arrevoar promoveu uma contação de histórias para recepcionar alunos pais e professores em seu primeiro dia letivo, estando representado pelas educadoras Marina Vieira e Luzia Santana. O início das atividades foi marcado pela importância do carinho, tema exposto através do livro Margarida Friorenta. Mantemos vinculo com a instituição a partir das trocas de saberes, produção de materiais informativos e acessibilidade em LIBRAS na realização de nossos projetos.
Situação: ativo

DECORAÇÃO DE NATAL 2018 NAS PRAÇAS DE TABATINGA (Desde 2018)
Situação: ativo

ARCOÍRIS FESTIVAL (desde 2019)
Situação: ativo

ARREVOAR NA PRIMAVERA DE MUSEUS
'Joaquim Tomé Pinto' é título do curta metragem que apresenta o Instituto Arrevoar à 14° Primavera de Museus do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), durante os dias 25 e 26 de setembro de 2020.
Após a exibição houve um debate com membros do Arrevoar que estão diretamente vínculos ao exercício de pesquisa e inventário para a criação do Museu Território de Sapupara, em Maranguape - CE.
As filmagens da produção foram realizadas durante o mês de agosto de 2020, na casa de Joaquim Tomé Pinto, artista plástico e morador da Rua João Uchôa, em Tabatinga, Maranguape, CE.

Participantes
Levi Levizagem: Arteiro/ Cientista Social
Rafayella Travassos: Artista Plástica / Agente Social
Osmar Filho: Drag Queen-Lindsey Martinez/ Compositor Lindsey Martinez/ Compositor
Antonio Ferreira: Historiador/ Responsável pelo Museu território de Sapupara
Inácio Vasconcelos: Professor de Geografia.

FESTA DE SÃO COSME E DAMIÃO
27 de setembro, dia dos Ibejes, de São Cosme e Damião
O Instituto Arrevoar, instituição educativa, cultural e social de Tabatinga Maranguape, se orgulha em celebrar lindamente os protetores da infância.
Nas múltiplas histórias sobre estes seres encantados, em todas elas o cuidado com as crianças e a cura estão articuladas. Os afetos que envolvem as histórias sobre Cosme e Damião também circulam em nosso coração Arrevoar!
"No Reino da Ibejada, quem manda é Cosme e Damião
Salve toda criançada, toda de doce na mão
No jardim e nas calçadas, é doce pelo chão
Como é linda a melecada de São Cosme e Damião."
A festa foi possível graças as muitas doações e ao trabalho voluntário de nossos membros.