Bens culturais de natureza material

Igreja de São Pedro dos Pescadores

Área de Atuação

Descrição curta

Endereço: Av. Beira Mar S/N, Mucuripe

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Descrição

A Capela de São Pedro dos Pescadores, antes rodeada de um vasto areal de coqueiros, foi sendo envolvida ao longo dos anos pelo asfalto, cimento, carro, barulhos outros para além do barulho do mar, mas mesmo assim, transformada em espaço reduzido e confinada, permaneceu como lugar por excelência de encontro da comunidade do Mucuripe, hoje, bem mais diversificada e socialmente desigual do que foi no passado.
Como podemos constatar, havia um constante interesse pela área do Mucuripe, considerada estratégica para o desenvolvimento da cidade. E este interesse não era somente econômico e político-administrativo. A Igreja parece que também entendia assim.
Em 1852 foi colocada a pedra fundamental da Igreja de Nossa Senhora da Saúde, na barranca do Mucuripe, em frente a sua enseada, pelo padre Carlos Augusto Peixoto de Alencar, Vigário Colado de Fortaleza (Vitalício) e, em 1864, tem-se o registro do primeiro casamento realizado na Igreja, indicando seu pleno funcionamento.
A Fundação da Igreja num lugarejo com alguns poucos barracos de palha que abrigavam famílias de pescadores, muito provavelmente constitui-se, por muitas décadas, a única instituição existente no lugar, que pudesse indicar a presença de uma autoridade, uma vez que é somente nas primeiras décadas do século XX que o poder público se faz presente com a criação da Colônia Z-8, que organiza e demarca a área de atuação dos pescadores.
A Igreja de São Pedro, antes Igreja de Nossa Senhora da Saúde, passa a ser o lugar do encontro para práticas religiosas e, nas areais do seu entorno, realizam-se as festas da comunidade. No entanto, há evidências de que a relação entre Diocese e a comunidade era permeada por muitos conflitos, segundo alguns autores, em virtude de desentendimentos no que se refere à administração dos rendimentos da Capela e pela forma “fanática” de adoração da imagem da santa – N. S. Da Saúde; e de cunho moral, pois os autores se referem também às bebedeiras e arruaças que os homens faziam nos arredores por ocasião das festas religiosas ou não, atitudes estas consideradas desrespeitosas pela proximidade do lugar sagrado e por serem indicadores de abandono da moral familiar preconizada pelo catolicismo.
Em 1930, o Bispo D. Manuel, interdita a Capela e excomunga o responsável, devido a um fato que ocorrerá em 1909, quando o Bispo Diocesano Dom Joaquim José Vieira, nomeou uma Comissão para realizar o arrolamento dos bens da Capella N.S. Da Saúde do Mucuripe e instalar um cofre na igreja, medida esta que denota uma desconfiança em relação à algumas pessoas da comunidade e, dado o espírito da solidariedade comunitária, atinge a todos, provocando uma coesão de grupo que se manisfestará em muitas ocasiões, durante muitos anos.
Contrapondo-se à instalação do cofre na Capella, diversas mulheres da comunidade ocupam a igreja, impedindo que o cofre seja instalado, o que demonstra uma luta em defesa do que era entendido e concebido como lugar sagrado, mas, mais que isso, denota também a defesa e a apropriação material e simbólica de um dos principais signos da vida comunitária. Com esse gesto, a comunidade demonstrou não somente o espírito de religiosidade, mas o de pertença e apropriação de um modo de viver. Esse embate, talvez de forma mais silenciosa, permaneceu por mais de 20 anos, até a interdição da da Capela em 1930.
Apesar da interdição a Capela continuou como referência da vida comunitário, de religiosidade e de sociabilidade, não só para a comunidade do Mucuripe, mas até para a “capital” (forma de referir-se ao centro histórico da cidade), o que é confirmado pelo Pe. Aldery Leite quando afirma que mesmo com o fechamento da Capela por alguns anos, esta nunca deixou de ser um referencial fundamental da vida religiosa da comunidade. Quando, em 1941, Orson Welles, vem ao Ceará filmar a saga dos jangadeiros, o principal cenário da vida comunitária é a Igreja e o seu entorno, fato este que reafirmou no imaginário social, a importância da edificação como lugar sagrado e de sociabilidades, estreitamente vinculado ao momentos marcantes da vida cotidiana – o trabalho no mar, a faina da chegada e saída das jangadas, atividade artesanal na produção dos instrumentos da pesca, os casamentos, as mortes, as festas e, provavelmente uma das mais importantes celebrações comunitárias de Fortaleza – a procissão de São Pedro nas jangadas, que sintetiza, na dimensão religiosa, o sentimento de pertença e de coesão da comunidade do Mucuripe.
A Capela, lugar de resistência e defesa da vida comunitária, permaneceu fechada por sete anos, só reaberta em 1937, pelo Pe. Francisco Pinheiro Landim, com o nome de Capella de Nazaré, posteriormente mudado para Capela de São Pedro dos Pescadores. A reabertura do templo permite conjeturarmos que a comunidade permaneceu resistindo à determinação eclesiástica e lutando para reafirmar o seu principal referencial de pertença e coesão comunitária. A mobilização que hoje fazem, buscando todos os recursos e formas para preservação do templo, é testemunho maior de importância da Capela como lugar sagrado, mas, mais que isso, como reafirmação identitária e de pertença a uma comunidade de destinos.
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