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Carla Mara Henrique Silva

Mestra Carla Mara, capoeirista há 38 anos. Ocupa o cargo de presidenta da Associação Zumbi Capoeira. Coordena o Coletivo de Mulheres AZC e da Diversidade LGBTQ+AZC. É integrante do Conselho de Mestras e Mestres da Capoeira do Ceará; do Coletivo de Mestras do Ceará, do Fórum das Mestras, do GT Salvaguarda da Capoeira no IPHAN. Integra o Comitê de Expressões Culturais Afro-brasileiras na SECULT/CE.

Email: carlafortaleza1@gmail.com

Endereço: Rua Clemente Pereira , 400 , Messejana, 60872-655, Fortaleza, CE

CEP: 60872-655

Logradouro: Rua Clemente Pereira

Número: 400

Complemento:

Bairro: Paupina

Município: Fortaleza

Estado: CE

Descrição

Carla Mara Henrique Silva, Mulher, liderança umbandista e educadora social iniciou a capoeira em 1984 no Clube Tiradentes, localizado no Parque Araxá, Fortaleza, Ceará. Nesses 38 anos de sua trajetória seus primeiros conhecimentos e técnicas na prática da capoeira iniciaram pela transmissibilidade dos alunos Júnior Moraes e Jean Cordeiro Machado, discípulos do mestre Everaldo Monteiro de Assis (Mestre Ema) fundador do Grupo Zumbi de Capoeira, um dos grupos de capoeira pioneiro no estado do Ceará. Mestre Everaldo Ema foi aluno do mestre Zé Renato (tesouro vivo da cultura in memoriam), criador do Grupo Xangô de Capoeira.

Cabe ressaltar, que a capoeira é uma manifestação cultural afro-brasileira que se constituiu historicamente pela predominância masculina. Diante desse cenário, não haviam muitas mulheres que praticavam a arte nesse período. Carla Mara em meados da década de 80 era uma das poucas mulheres praticantes entre os grupos de capoeira em Fortaleza, CE. Entre tantos desafios para permanecer praticando a capoeira, elencam-se: enfrentar discriminações e preconceitos por ser mulher e se inserir na arte da capoeira; realizar estratégias para conseguir a aceitação familiar e assim frequentar os treinos; enfrentar a construção de uma cultura de rivalidade entre as mulheres capoeiristas da época; o não reconhecimento das singularidades e potencialidades femininas; as dificuldades de acesso a musicalidade e instrumentos musicais; a dedicação demasiada da prática dos movimentos da luta para se sobressair e ser aceita nos rituais da roda da capoeira; a divisão entre mulheres e homens para realizar o ritual da roda da capoeira dentre outros desafios que contribuíram para romper paradigmas e estereótipos e fortalecer a ancestralidade, os rituais, as simbologias da cultura afro descendente manifestadas na capoeira.

No decorrer do ano de 1986 Carla começou a ministrar aulas de capoeira na comunidade que ficava no entorno do Rio Maranguapinho, onde fica a Ponte da Avenida Mister Hull na divisa entre o município de Fortaleza e Caucaia no estado do Ceará. Na ocasião, Carla trabalhou com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e risco social por intermédio do Projeto Recriança que foi desenvolvido nas periferias de Fortaleza (observação: apresenta-se um vídeo do mestre Everaldo Ema na coletânea do mapa cultural da Mestra Carla para fins de comprovação).

No ano de 1987 Carla Mara constituiu residência no Bairro Nova Metrópole em Caucaia, Ce. Na localidade também residia Everardo Carlos Pereira, apelidado na capoeira como Soldado (in memorian). Ele também foi aluno de Mestre Everaldo Monteiro (EMA). Nesse mesmo ano, Carla passou a treinar com Mestre Soldado e nos anos seguintes, em 1988 e 1989 passou a ministrar aulas de capoeira para crianças e adolescentes iniciantes que chegavam para treinar. Muitos capoeiristas, hoje mestres, passaram por suas aulas, tendo contribuído na formação de muitos praticantes.

Posteriormente, em 1999 Mestre Everardo Soldado mudou para o município de Palmas, Brasília. Foi quando Mestra Carla então passou a treinar ao lado de seu marido, também capoeirista Carlos Silva, o Mestre Lula, na Associação Grupo Zumbi de Capoeira. O mestre Lula já desenvolvia um trabalho com capoeira no Centro Social Urbano Virgílio Távora localizado na comunidade do Pirambu. No início, ela foi vista como a mulher do mestre pelos alunos, mas logo firmou seu lugar como detentora do conhecimento ancestral e da prática da capoeira.
Como dizem os velhos mestres, “foi na cadência do berimbau e na mandinga” que Carla construiu seu trabalho. Nesse percurso, a partir do desenvolvimento, a difusão e preservação da capoeira como manifestação cultural, ela alcança o reconhecimento dos seus discípulos, da comunidade e os principais agentes dessa manifestação cultural, assim como demais setores culturais. Nesse ínterim, foram surgindo demais oportunidades de trabalho, dentre elas:

*1999 - participou do I campeonato de mostra de capoeira no Piauí;

*2000 - ministrou aulas de capoeira no Projeto ABC, no bairro do Pirambu, na Vila Olímpica do Conjunto Ceará e da Messejana em Fortaleza, Ce.

*2001 - organizou a primeira caminhada pela paz na capoeira e coordenou o I simpósio de capoeira no Bairro do Pirambu, Fortaleza, Ceará em que compareceu o mestre Nestor Capoeira do Rio de Janeiro.

*2004 - formatura de contra-mestra no Centro Social Urbano (CSU) Governador César Cals com a presença do Mestre Everaldo Ema e de seus discípulos formados mestres no estado do Ceará;

*2006 - Participou da estruturação e execução do Projeto Capoeirarte desenvolvido pela Secretaria de Esporte e Lazer de Fortaleza, realizou trabalhos com oficinas, eventos, apresentações e temas diversos que atravessaram as diferentes gerações: crianças, adolescentes e adultos.

*2007 e 2008 - Foi professora de capoeira no projeto Esporte na Comunidade, desenvolvido pela prefeitura de Fortaleza;

*2008 - Representou o Ceará no Programa Nacional Pró Capoeira em Recife no período em que Gilberto Gil foi ministro da cultura.

*2009 - Professora de capoeira no Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem Urbano), executado pela Prefeitura de Fortaleza, por meio da Coordenadoria de Juventude e Secretaria Municipal de Educação (SME) nas comunidades do Castelão, Dias Macedo e Goiabeiras;

*23 de Janeiro de 2009 - formatura da mestra no CSU Governador César Cals com a presença do Mestre Everaldo Ema e de seus alunos formados mestres no estado do Ceará;

*2009 a 2013 - foi coordenadora do projeto esporte na comunidade. Participou ainda no projeto Tempo de Cultura, Capoeira e Cidadania, entre 2017 e 2018;

*2015 - representou a capoeira do Ceará junto ao IPHAN na Serra da Barriga, promovido pela Fundação Palmares.
Com sua atuação e trabalhos reconhecidos no âmbito municipal, estadual e Nacional em 2016, Mestra Carla passa a se engajar nos movimentos e discussões da cultura tradicional e afro-brasileira do Ceará e junto a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (SECULT/CE) compõe comitê de expressões culturais afro-brasileiras do Ceará. Nesse espaço de representação pela luta e reconhecimento da capoeira como manifestação cultural no estado, no que tange a construção de políticas públicas culturais, mestra Carla contribui com os seguintes avanços:

a) 2018 - foi lançada portaria n° 181/2018 com finalidade garantir participação, articulação, planejamento e execução de políticas públicas para o fortalecimento das várias formas de manifestações afro-brasileiras, dentre elas a CAPOEIRA.
Foi apresentado pedido de Registro da CAPOEIRA que está em andamento na SECULT;

b) 2020 e 2021 - Realização do I e II Prêmio Expressões Culturais Afro-brasileiras constituída como uma ação de reconhecimento e valorização das culturas dos coletivos negros (capoeira incluída enquanto expressão), culturas indígenas e culturas das comunidades tradicionais de matriz africana e afro-brasileira em território cearense. Uma política que reconhece as formas de expressão, de celebrações e saberes realizadas ou em andamento, contribuindo para a garantia dos direitos de acesso e promoção às políticas da cultura, de forma a cumprir as diretrizes formuladas pelo Plano Estadual de Cultura do Ceará, instituído pela Lei no 16.026/2016 de 01 de junho de 2016. Ressalta-se que no I prêmio foram contemplados dois projetos de capoeira contemplados: 1.Eu, Você, A Escola e a Capoeira (Evec); 2. Trajetória Cultural, Educacional, Social e Política no Estado do Ceará e Projeto Mandinga na Ribeira. No II prêmio foram sete propostas: 1.Debate com Ginga: as Multifaces da Capoeira - Associação Sociocultural Viva Capoeira Viva; 2. Interação e Imersão em Capoeira em Novo Formato; 3.Capoeira Angola Ke Sikria: 4. Tecendo Saberes Ancestrais; 5.Terreiro Cultural Arte E Tradição; 6.A Arte De Educar Gingando - Material Educativo; 7.Capoeira, O Jogo Da Memória Em Movimento.

c) Reconhecimento de dois Mestres de Capoeira reconhecidos como Tesouros Vivos do Estado Ceará;

d) Participação ativa da capoeira na Bienal do Livro - várias participações e o stand a disposição da capoeira com atabaque e jogo, dança, lançamentos de livros;

d) Participação dos capoeiristas de todo estado do Ceará contemplados pela Lei Aldir Blanc;

e) A participação significativa de inscrições dos capoeiristas no mapa cultural;

f) Ampliação dos assentos da capoeira no comitê de expressões culturais afro-brasileiras, com assentos para capoeira regional e angola;

g) Estabelecimento de cotas raciais nos editais da SECULT como garantia de direito;

h) Participação em campanhas de combate ao racismo do Estado do Ceará inclusive no âmbito da capoeira;

i) Aumento da participação da capoeira na programação dos equipamentos culturais.

As vivências, transmissibilidade da arte, a manutenção da prática da capoeira, o fazer cultural ao longo de sua trajetória na capoeira, possibilitou a Mestra Carla amadurecimento e empenho na militância e desenvolvimento de ações, eventos, projetos e oficinas voltados para promover a interlocução da capoeira com as demais manifestações da cultura afro brasileira e de matriz-africana, articulando-as à defesa dos direitos das minorias: mulheres, população LGBTQIA+ e pessoas e comunidades periféricas.

Mestra Carla passou a ser referência na comunidade capoeirista na luta pelos direitos das mulheres na capoeira e por reafirmar as políticas públicas voltadas para a garantia e proteção desses grupos minoritários. No início, Mestra Carla era uma das únicas mulheres que transitavam em espaços de liderança masculina no universo da capoeira, assim sendo, precisou afirmar e reafirmar seu lugar como Mulher e mestra de Capoeira e abriu caminhos para as demais mulheres. Destaca-se em seus trabalhos interseccionais:

a) 2006 - 1ª Congresso de Mulheres Capoeiristas no ano de criação da lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), uma iniciativa para promover a divulgação e conhecimento da lei entre a comunidade capoeirista. Esse Congresso tornou-se um projeto da Associação Zumbi Capoeira (AZC) e passou a ocorrer regularmente de forma bienal com diferentes reconfigurações com o objetivo de combater a violência contra as mulheres;

b) Fevereiro 2015 - Coletivo de mulheres Capoeiristas;
2017 - Fundou o Coletivo da diversidade Associação Zumbi Capoeira (AZC);

c) 2017 - Participa e contribui na organização do 1ª Fórum de mulheres do Espaço Belchior, no Vila das Artes, Centro, Fortaleza, Ce.

“Na volta que o mundo deu, na volta que o mundo dá” (parafraseando uma cantiga de capoeira de domínio popular), Mestra Carla realizou interlocuções com importantes equipamentos de proteção à mulher para desenvolver trabalhos relacionados com a capoeira: a Casa da Mulher Brasileira e a Comissão de Direitos das Mulheres da Ordem dos Advogados (OAB);
Ao longo dos anos, Mestra Carla se tornou uma referência feminina na capoeira, não apenas no estado do Ceará, mas também no Brasil e no mundo. A força deste trabalho envolve grupos de várias faixas etárias, como crianças, jovens e adultos, mas principalmente mulheres e mães que encontram na arte da capoeira um alento para suas dores e sofrimentos. Mestra Carla também é militante umbandista e fomenta o desenvolvimento de outras práticas culturais como o Jongo, o samba de roda e o coco.

Iê viva a Mestra!

OBSERVAÇÕES: Apresentamos listagem de vídeos com o título: "Depoimentos do histórico cultural das vivências na capoeira da Mestra Carla Mara" que expressam sua experiência e trajetória cultural. São falas do Mestre da Cultura do Ceará, atual tesouro vivo, de mestras e mestras, professoras e professores e alunas e alunos. Ressalta-se ainda a apresentação de dois documentos: links dos trabalhos da mestra e carta aberta de mestras, contramestras e professoras de capoeira no estado do Ceará e do Nordeste.

Vídeos